Última praia com minhas tranças do luto.
Estou triste.
E essa tristeza é só minha, não cabe
explicar como ela se habita mas vale dizer que estar triste não é ser triste.
Quem me conhece sabe que não sou triste e
isso é de verdade, tem gente que tem uma coisa dentro do corpo e explode na
cara e nos gestos uma tristeza, mas comigo não é assim. Sou feliz mas estou
triste.
E quis deixar público.
Gente, luto é um troço muito forte, não
come a gente mas muda a nossa digestão, o jeito que assimilamos o mundo e estou
de luto.
Essa tristeza não me impede de nada, mas me
dá forças para fazer e dizer mais.
Gosto muito dessa experiência que é viver,
não me agarro na vida como algo único mais, e sim como algo meu e atual.
Fiquei de outubro de 2016 à maio de 2018
com os cabelos escondidos, foi o começo do meu luto, cabelo esse que além de
identidade é força. Escondi e misturei minha força a fio falsos e de plástico.
Pude mostrar que agora não era tempo para o mesmo, achei injusto o mundo
continuar o mesmo depois que minha avó morreu.
E não continuou.
Minha vó e minha mãe, depois meu pai. E a
dor não acaba.
Morte de velho é como deixar de ver uma
montanha, perder a cordilheira que sempre esteve ali diante de mim, algo incontornável,
a beira do absoluto. Como viver essa ausência? A o mesmo tempo é lindo, morte
de gente velha, a pessoa se tornado um cristal, cada vez mais transparente. Mas
sofri, não acho que ela descansou e sim segue vibrando.
E meu pai, mais amor, ele que ficou depois
que minha mãe morreu, minha referência, ele sempre ficou. Ele não estava velho,
ainda havia tempo, mais tempo. Como entender a ida de quem sempre ficou?
Não tenho que entender nada, não estou
procurando consolo. Estou encontrando
lugar dentro de mim dessa nova paisagem, isso dá tristeza, muita tristeza. E
mesmo sendo feliz vivo essa tristeza todo dia, toda hora.
E nessa tristeza tenho tempo, espaço e
contorno para curtir, sorrir, e seguir sendo feliz como fui criada, colocando
tudo para fora e me despedindo do que vai.